Goiânia, 23 de maio de 2014
Crônica jornalística
Por Álvaro de Castro
A notícia de quinta-feira dizia que eu não teria aula no outro dia, sexta-feira. Ótima oportunidade para que eu pudesse ter uma longa noite de sono, que terminasse apenas na horário do almoço de sexta. Mas não foi bem assim que aconteceu, muito pelo contrário. Por volta de 7 horas da manhã, meu telefone começa a tocar. Devido ao sono e a vontade de não acordar, só vou atender na terceira vez que o celular toca. A notícia era a pior, na verdade que eu menos esperava pra um dia então calmo 23 de maio.
O que chegou aos meus ouvidos, era a prisão de um grande amigo. Pra piorar, não só ele, mais dois estudantes também haviam sido apreendidos em suas casas, na madrugada. O absurdo das prisões não foi um sentimento de quem estava com sono. A indignação seguiu durante toda a manhã. A busca por informações, ligações, o borbademento de notícias vindas da internet, tudo só piorava o sentimento de injustiça das prisões.
Não bastasse ter três pessoas próximas presas, todos já sabiam que a detenção tinha sido arbitrária, de cunho político, visando primordialmente inibir a crescente indignação da população goiana diante do caos do transporte público. A pedido dos advogados e de familiares, fui orientado a não ir até a DRACO, a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas. Afinal de contas, jovens estudantes que lutam por melhorias sociais, são enquadrados e levados para lugares que reprimem quadrilhas do crime organizado. A indignação só aumentava.
Por fim, meus colegas foram levados até a Casa de Prisão Provisória, a famigerada CPP. Diante de todas a informações e tudo que pairava aquela sexta-feira, me resguardei às verdades que eu sabia, que presenciava e via. Primeiro, a de que meu grande amigo e seus dois companheiros não faziam parte de uma organização criminosa; segundo a de que não exerciam nenhum papel de liderança; e terceiro, primordialmente, a de que o serviço de inteligência da polícia não atende aos interesses da população. Falo isso com a propriedade de quem convive e vive diariamente, tanto como usuário do transporte público, quanto como companheiros dos injustiçados do dia 23 de maio de 2014.