A revolução que não teve fim
Após 42 anos, o Brasil ainda busca a verdade sobre a Guerrilha do Araguaia
Por Átila Giovani
No dia 5 de janeiro de 1975, o presidente Ernesto Geisel enviou mensagem ao Congresso para informar o fim do movimento armado. Contudo, esta página da história do país ainda não teve seu fim, pois existem fatos a serem revelados sobre a operação de combate à Guerrilha do Araguaia. A busca por corpos no Araguaia não cessou. Até hoje, dezenas de militantes que participaram da Guerrilha estão desaparecidos.
A Guerrilha do Araguaia foi um movimento que surgiu na década de 1970 em oposição à ditadura militar. Os militantes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), que defendiam a luta armada, migraram para a região, conhecida como Bico do Papagaio, com o objetivo fomentar uma “revolução socialista”. Ela se baseava nas experiências da Revolução Cubana e da Revolução Chinesa.
O movimento começou a ser preparado em 1966. Ele ocorreu no norte de Goiás, atual Tocantins, e no sul do Pará entre os anos de 1972 a 1975. A Guerrilha foi inspirada nas táticas e estratégias formuladas por Mao Tsé-tung, que liderou a revolução socialista na China.
Segundo a Comissão da Verdade, estima-se que o conflito tenha deixado um total de 76 mortos, referentes a guerrilheiros e colonos recrutados da região. Na época, a guerrilha não foi abertamente noticiada na imprensa local e nacional, mantida em sigilo pela dura censura da época. Até hoje, os familiares das pessoas mortas neste combate tentam localizar restos mortais de seus parentes para poderem finalmente conseguir enterrar os seus mortos.
A procura da verdade
O governo e representantes da sociedade civil organizada têm realizado expedições com o objetivo localizar todas as vítimas do Araguaia.No inicio de 2014, foi criada uma força-tarefa pelo Ministério Público Federal (MPF) para investigar a Guerrilha e terá seis meses para concluir os trabalhos, prazo que poderá ser prorrogado.
Esta força-tarefa é formada pelos procuradores Antônio do Passo Cabral, Luana Vargas Macedo, Melina Alves Tostes, Sérgio Gardenghi Suiama, Ivan Cláudio Marx, Tiago Modesto Rabelo e Marlon Alberto Weichert. Eles vão atuar junto aos procuradores do município paraense de Marabá Mara Elisa de Oliveira e Henrique Hahn Martins de Menezes.
Em 2010, a Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou o Estado brasileiro por violações no combate à guerrilha. De acordo com o tribunal, o Brasil é responsável pelo desaparecimento de 62 pessoas e deve investigar o caso por meio da justiça comum, identificando os culpados, sem beneficiá-los com a Lei de Anistia.