Seguro de saúde é seguro?

Usuários insatisfeitos reclamam que nem sempre ter um plano garante bom atendimento e conforto com a própria saúde

Luiz Eduardo Krüger


Não é de hoje que ouvimos falar sobre planos de saúde. Seja nos jornais e até mesmo nos anúncios publicitários, os seguros de saúde estão presentes. O que chama a atenção, porém, são as reclamações de usuários insatisfeitos com seus respectivos planos. E até mesmo com certa razão. Quem mais recebeu reclamações no Procon no ano de 2010 foram as seguradoras e operadoras de planos de saúde.

F.H.B. sofre de uma doença chamada ceratocone, que causa mudanças estruturais na córnea fazendo com que o portador da doença tenha distorção da visão e múltiplas imagens. Em seu estágio mais avançado não é possível a correção com o uso de óculos, a solução é um transplante de córnea, e um paliativo é a introdução de anéis intracorneanos. O plano de saúde F.H.B. não cobre nenhum dos dois procedimentos. “Eu já não dirijo mais, à noite é quase impossível enxergar, mas infelizmente eu não tenho o dinheiro para a cirurgia, entrei na fila do SUS, mas Deus sabe quando vai ser minha vez”, afirma F.H.B., que não quer ser identificado.

M.I.K. sofre de artrite e reumatismo. Ela necessita de próteses nos joelhos no valor de R$ 13 mil cada uma. O seguro de saúde dela está analisando o caso. “Vamos torcer para que liberem, senão a gente vai ter que dar um jeito”, diz a senhora que também não quer se identificar. M.I.K. tem 64 anos e se não receber as próteses, fatalmente irá para um cadeira de rodas.

Existe um órgão chamado ANS, a Agência Nacional de Saúde Suplementar, que embasa e regula os planos em todo o país. “Se assemelha à Anatel, nas telecomunicações e à Anac, na aviação”, frisou Marta de Souza Dias, gerente comercial da Unimed Cerrado. A ANS foi criada em 1998 e só a partir daí a questão dos planos de saúde ganhou atenção especial. Anterior a esse momento era difícil estabelecer um parâmetro ou até mesmo um aparato legal que protegesse o usuário e também as seguradoras.

Mas parece que pouco mudou com a chegada da ANS. Os números do Procon em 2010, que apontam as seguradoras como campeãs de reclamação, prova isso. De acordo com Marta de Souza Dias, isso se deve ao fato dos usuários estarem cada vez mais inteirados dos seus benefícios, conhecem seus direitos, mas às vezes agem de má-fé. Ela ainda frisou que acontece uma “judialização” da medicina, ou seja, o juiz tende a ir para o lado do usuário.

 

Profissional da Saúde

Marcelo Augusto Silva é cirurgião-dentista e diz que no início da carreira, trabalhar com planos é interessante para formar clientela. “Os planos de normalmente possuem uma relação de profissionais credenciais, os usuários têm liberdade para fazer sua escolha”, diz Marcelo. E os professionais também podem trazer os clientes do plano para o particular, em casos em que não há cobertura por parte do plano, como em procedimentos estéticos, lembrou o dentista.

Mas nem tudo são flores. A remuneração do plano ao profissional geralmente é baixa, e a carga de impostos é muito alta, cerca de 16% do que é pago pelas operadoras. “É mais um necessidade do que uma vantagem”, sistematizou Marcelo Augusto.

 

 

 

 

Ética e Dinheiro

Quando se forma, um médico faz o juramento de Hipócrates. E nesse juramento ele se compromete a garantir o bem estar dos pacientes. Mas, como lidar com essa questão quando o dinheiro está envolvido? Um exemplo simples: um sujeito vai ao consultório médico e o médico constata que esse sujeito necessita de certo procedimento, mas o plano de saúde dele não cobre o procedimento. E então o que fazer?

“Ou você cobra particular, ou você não faz. Se não há cobertura e o paciente não tem condições de fazer o tratamento, pode procurar o sistema público de saúde. Ou você passa a fazer caridade. A partir do momento em que você se propõe a fazer algo, você passa a ser responsável legal para efeitos legais”. É a opinião do cirurgião-dentista Marcelo Augusto Silva sobre o assunto.

Já Pedro Vinícius que é estudante do terceiro período de medicina da Unirg diz que varia de profissional para profissional. “Existem médicos que não veem problema em fazer um procedimento no qual você mataria dois coelhos numa cajadada só, por exemplo, abrir o paciente para uma cirurgia gástrica, perceber um apêndice ruim e já aproveitar a abertura do paciente e também retirar este apêndice. Boa parte dos médicos pensa no financeiro, e outra parte pensa no bem estar”.

Fonte: FACOMB