
No link da democracia
Manifestantes dos países árabes fazem da tecnologia uma importante aliada contra governos ditatoriais e autoritários
João Victor Guedes
A Internet tem sido o principal ponto de referência para os manifestantes dos países árabes que, nas últimas semanas, têm organizado manifestações contra governos ditatoriais, característicos em nações muçulmanas. Um dos motivos que levaram os organizadores dos protestos a partirem para o computador foi a Lei de Emergência , imposta na maioria dos países islâmicos pelos governantes. A Lei impede grandes concentrações de pessoas para discutir assuntos públicos, estabelece um toque de recolher na cidade, pune gravemente os que são contra o governo e exige respeito a esfera pública.
Essas imposições e punições fizeram dos tunisianos os primeiros a ‘’se conectarem’’. Eles tomaram o pontapé inicial e se reuniram, em janeiro, através de um site de relacionamentos, para discutirem os erros do governo contra os civis. O resultado foram semanas de manifestações que deixaram cerca de 60 mortos no país e levaram a queda do ditador Zine Bem Ali que governava a Tunísia havia 23 anos.
No Egito, onde o ditador Hosni Mubarack renunciou também devido aos protestos, os organizadores fizeram do Facebook o centro de encontros. Uma sala de debates online foi criada com atualizações minuto a mintuto feitas por integrantes da página do site, de todas as partes do país. Uma lista de advogados que se voluntariavam para atender os manifestantes que fossem presos era publicada a cada atualização.
No dia 24 de janeiro, um dia antes das manifestações, a página inicial contava com 300 mil integrantes. Cidadãos egípcios que, juntos, somam cerca de 7 milhões de pessoas que têm acesso à Internet no país. Para o professor de Geopolítica Jutorides Santana, a situação de uma nação que tem uma fraca economia, mas uma população conectada foi o que motivou o governo a cortar os serviços de internet por três dias. Dezoito dias após a criação da primeira página no Facebook, o presidente Hosni Mubarak renunciou após 30 anos no poder.
Na vizinha Líbia a situação não foi diferente. Diante da onda de mensagens via e-mails e pelo Orkut, o ditador Muamar Kadafi se viu obrigado a cortar os serviços de internet e telefonia do país.
Conhecimento
Para, o assessor e professor de Relações Internacionais da PUC Goiás, Luciano Nunes da Silva, a quantidade de informações transimitas pela internet fez com que os manifestantes descobrissem a realidade mundial. Segundo ele, a Internet mostrou aos manifestantes que problemas internos, como a falta de emprego, falta de estrutura, saúde precária, também existe em outros países e que podem ser solucionados. “Isso reforçou a vontade deles de tomar uma iniciativa para tentar combater essa realidade” , comentou o professor.
A insatisfação popular no mundo árabe é o reflexo da situação política e econômica desses países. Com o avanço da tecnologia e uma maior acessibilidade à internet, os árabes passaram a entender o que é democracia, pois tiveram acesso a informações que, normalmente, são barradas no dia a dia da população local.A internet ajudou os manifestantes a se organizarem e a enxergarem que um futuro mais moderno e promissor é possível e não muito distante.
As tentativas de derrubada dos governos nesses países configuram uma nova realidade que as redes sociais trouxeram com seu surgimento, a de dar voz a quem não tinha. Por mais que o poder das nações tenha tentando bloquear o acesso da população à sites que pudessem influenciá-la contra si os gigantes Google e Twitter criaram dispositivos que permitiram que as pessoas pudessem publicar mensagens na internet. No caso do Egito o Google colocou à disposição três telefones internacionais nos quais os usuários podiam deixar uma mensagem de voz que o serviço instantaneamente “tuitava” com a hashtag #egypt
De acordo com Luciano da Silva a Internet é um meio ‘’socializador’’ de informações. Os acontecimenttos no mundo árabe vêm de iniciativas que tem sido gestadas por redes sociais e que tem mostrado às pessoas que uma sociedade moderna e conectada é uma sociedade atenta e democrática.
O governo da Síria está reativando o acesso da população ao Facebook, após cinco anos de bloqueio, segundo o jornal The Guardian. A ação foi vista como uma medida para amenizar os ânimos da população e conter uma possível agitação incentivada pelos recentes manifestações contra os governos do Egito e da Tunísia. Até então, dezenas de milhares de internautas usavam proxies e programas especiais para burlar o bloqueio em território sírio.
A abertura da rede aconteceu após uma tentativa de protestos na capital do país, Damasco , nos últimos dias 4 e 5 de fevereiro. Um grupo de ativistas usou o próprio Facebook, por meio de proxies, para chamar a população para manifestações na cidade. O movimento foi batizado de “Fúria Síria”.
Histórico
Com o surgimento do Islamismo na região no século sete depois de cristo,a cultura local se espalhou para o norte da África e ilhas asiáticas. Com esse avanço, o árabe tornou-se o idioma oficial em 22 países. A língua é falada por cerca de 360 milhões de pessoas. O Ocidente caracteriza como mundo árabe todos os países que têm o árabe como idioma oficial.
Ao longo da história, os países árabes foram sendo ocupados por religiosos que pregavam o islamismo e compunham a vida pública. Com o tempo a política foi sendo transformada em governos autocráticos com grande falta de controle democrático.
A insatisfação dos civis que viam há anos governos mergulhados em corrupção, com elevadas taxas de desemprego e economia no vermelho, fez com que manifestações por uma mudança nos regimes políticos fossem colocadas em prática.
O início das insatisfações foi na Tunísia, no dia 17 de dezembro do ano passado com o ato de um jovem desempregado. Mohamed Bouazizi ateou fogo ao próprio corpo, quando autoridades da cidade em que ele morava o impediram de vender legumes nas ruas sem permissão.
Fonte: Facomb