O adeus à Praia do Tucunaré
Patrimônio natural sede lugar a hidrelétrica
Por Átila Giovani
Após vivendo por mais de 8 anos em Goiânia com minha família, tive a oportunidade de levar meus filhos à minha cidade natal, para que conhecessem a praia do Tucunaré, uma das maiores riquezas naturais que aquela terra centenária possui. Localizada na margem do rio Tocantins, bem em frente a cidade de Marabá, me traz boas recordações da minha juventude, momentos felizes passando com meus pais e com amigos. Agora tudo isso está com dias contados com a construção da nova hidrelétrica de Marabá.
A hidrelétrica de Marabá está planejada para ser construída no custo estimado em R$ 12 bilhões, com um prazo de construção médio de oito anos. A hidrelétrica formará um lago 3.055 km², bem maior do que o lago formado pela hidrelétrica de Tucuruí. Serão inundados 1.115 km² de terras (mais de 110 mil hectares de terras férteis). Esta hidrelétrica terá capacidade de produção de 2.160 MW. Ela vai atingir nove municípios: Marabá, Palestina do Pará, São João do Araguaia, Brejo Grande do Araguaia e Bom Jesus do Tocantins, todos no Pará; Axixá, Esperantina e Araguatins, no Estado do Tocantins; e São Pedro da Água Branca, no Maranhão. Com isso quase 10 mil famílias terão suas casas e terras inundadas pelas águas da barragem.
No Brasil, o negócio das barragens tem sido muito lucrativo, sob vários aspectos. Primeiro, porque pelo menos 80% das hidrelétricas são construídas com dinheiro público do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Segundo porque o consórcio construtor quita o empréstimo com o dinheiro da conta de energia, que é paga pelo consumidor. Mesmo com tudo isso, a tarifa brasileira é a quinta mais cara do mundo.
Quando se fala em construção de hidrelétricas, fala-se de milhares de hectares que serão inundados, engolindo casas, plantações, reservas indígenas e tudo que estiver no caminho do progresso. Apesar de ser considerada uma fonte de energia renovável e não emitir poluentes, essa alternativa não está isenta de impactos ambientais e sociais. A inundação de áreas para a construção de barragens gera problemas de realocação das populações ribeirinhas, comunidades indígenas e pequenos agricultores.
Penso ser um preço muito alto a ser pago pelo progresso. Apesar dos empregos gerados no local neste período de construção, a maior parte da energia produzida vai ser consumida para abastecer parques industriais de outras regiões do Brasil. Com tudo isso o progresso chega e vai embora, enquanto que os transtornos ficam, inclusive a saudades da da Praia do Tucunaré que tá com seus dias contados.
Fonte: FIC