Animais necessitam dos humanos
A ajuda oferecida por ONGS a animais abandonados não é suficiente para solucionar o problema. O poder público não dá atenção ao tema
Por: Bárbara Zaiden e Thamara Fagury
Ter um animal de estimação faz parte do sonho e da realidade de muitas famílias. Contudo, a relação existente entre humanos e animais é contraditória ou muitas vezes frustrante. Quando o bicho não se adequa às expectativas do dono, ele pode sofrer sérias consequências, que vão desde maus tratos até o abandono, principalmente quando são animais de rua. Casos assim são constantes e, infelizmente, rotineiros. Atualmente, o exemplo mais chocante foi o do dono que arrastou seu cão da raça Rottweiller amarrado ao carro por diversos quarteirões. O motivo alegado foi que o cão não vigiou a residência.
Para Leonardo Saldanha Luck, gerente do Departamento de Comunicação Social da Aspaan (Associação Protetora e Amiga dos Animais), um dos motivos que levam ao abandono e aos maus tratos é o fato de que muitas pessoas compram o animal por impulso, mas não têm nenhuma noção sobre os cuidados que um bicho exige, como os banhos, vacinas, vermífugos, boa ração, etc.
O campus II da Universidade Federal de Goiás é um dos lugares em Goiânia que recebe a visita de muitos animais abandonados. Como o campus é cercado por pequenos bairros residenciais, é provável que os cachorros cheguem à faculdade e lá encontrem um maior conforto em relação ao que poderiam ter antes. A universidade se mostra como um bom lugar para eles, pelas condições que encontram, pois é um lugar público que possui cobertura, está sempre movimentado. Estes animais são queridos por boa parte dos funcionários e estudantes, que os alimentam e dão atenção.
A Aspaan constantemente recebe ligações ou emails sobre os animais do campus. O grande problema é que atualmente, a ONG está sem um lugar para abrigar os quase 100 animais que possui, por isso, divulgam os casos nas redes sociais. O objetivo é encontrar novos donos e tirar os bichos da rua.
Porém, achar um dono para cães e gatos de rua não é fácil. De acordo com Leonardo Saldanha, “muitas pessoas possuem preconceito com relação aos animais de rua, vulgo vira-latas. Alguns preferem pagar uma fortuna para comprar animais de raça, mas se esquecem que aqueles que são muito puros costumam ter mais problemas de saúde que os sem raça definida (SRD)”.
Questão pública
É importante lembrar que animais na rua também são assunto de interesse público. Neste sentido, o governo do Estado de Goiás não está agindo como deveria. Leonardo afirma que Centro de Zoonoses da prefeitura faz apenas o recolhimento e sacrifício dos animais que não são adotados, sem ao menos promover ações que visem a adoção. Contudo, o diretor do Centro de Zoonoses de Goiânia afirmou, durante a audiência pública sobre a Leishmaniose, que as políticas do centro foram modificadas e que os animais têm um prazo estipulado, e que o sacrifício só ocorre quando as adoções não acontecem.
Para Saldanha, tentar remediar o abandono não basta, o ideal seria a existência de uma política de castração para controle populacional dos animais. O projeto de lei do Deputado Estadual Mauro Rubem sobre o assunto foi reprovado na Assembléia Legislativa e o funcionário da Aspaan lamenta: “o poder público deve assumir o papel de fazer as castrações de animais, inclusive daqueles que não têm condições financeiras. Alguns municípios e universidades espalhadas pelo país realizam mutirões de castração, mas, lamentavelmente, não existe nada parecido no Estado de Goiás”. Infelizmente, a faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Goiás não oferece nenhum tipo de parceria com as ONGS goianienses.
Voluntários
Em Goiânia existem duas organizações não governamentais (ONGs) que realizam ações em prol dos animais abandonados: Aspaan e Hammã . O funcionamento das organizações depende do trabalho realizado por voluntários e da colaboração de clínicas e profissionais, que cobram menos pelos serviços oferecidos. A arrecadação de dinheiro é feita através de doações, da venda de produtos personalizados, de bazares e feiras. Enquanto as feiras não acontecem, os animais recolhidos passam por tratamento veterinário, castração e ficam disponíveis para doação nos canis da sede.
Mas a situação não é tão simples. A Aspaan enfrenta muitos obstáculos no caminho. Primeiramente, a ONG passa por uma série crise. A sede em que está localizada foi vendida e no próximo ano os quase 100 cães e gatos que lá estão, podem ficar sem teto. Por este motivo, a associação parou de acolher animais de rua e realiza um intenso projeto na tentativa de conseguir doações de materiais ou até mesmo de um terreno para a concentração da sede.
Outro problema é a falta de ajuda de voluntários e de doações, já que a Associação não possui vínculos com o poder público e as despesas são todas custeadas por ela mesma. Ajudar os animais não é o único objetivo da Aspaan. A luta da organização também está em conscientizar o poder público e a população acerca de temas como posse responsável, necessidade de castração para controle populacional, maus tratos e cuidados necessários de um animal. Contudo, sozinhos, essa missão tona-se cada vez mais difícil. “Necessitamos muito de doações e de parceiros que possam nos ajudar”, afirma Leonardo.
Fonte: Facomb