Realidade dura, experiência incrível
Por Marcelo Gouveia
Laura Wäergele tem 22 anos, vive no município de Hauestein, uma pequena cidade da Alemanha. Seu curso universitário foi primordial na decisão de realizar o intercâmbio. Na universidade cursava “Estudos sobre a América Latina”, que tem como princípio a história sociocultural dessa região. Depois de fazer duas matérias em assessoria brasileira, resolveu vir ao Brasil para conhecer e estudar a cultura. Já passou uma temporada na Espanha e apesar de ainda confundir o português com o espanhol, está se acostumando com facilidade à nossa língua e hábitos. Nesta entrevista a estudante comenta sobre os prazeres e dificuldades em realizar intercâmbio, além de sua adaptação à cultura e ao clima.
Qual foi seu principal objetivo em realizar o intercâmbio?
Laura Wäergele - Aprender o idioma, conhecer o país e fazer experimentos. Porque já fui à Espanha e trabalhei lá também. Ir para outros países é uma experiência única.
Como seus amigos e familiares reagiram à sua decisão de fazer intercâmbio?
Laura - Eles já sabiam há muito tempo. Meus pais, na primeira vez que saí, estavam preocupados, mas agora já estão bem mais tranquilos.
Por que o Brasil? A escolha do país foi sua?
Laura - Sim, a escolha foi minha. Foi uma escolha pragmática, pois tinha que escolher um país latino-americano, isso era obrigatório. Eu já sabia falar espanhol, e tinha começado a pegar aulas de português, então ficava claro que deveria ir ao Brasil para aprender mais do idioma. Já havia feito dois cursos de assessoria brasileira em minha faculdade, e gostei muito. Assim, já sabia um pouco da história, um pouco do país e vim com muita vontade.
Seu português é excelente. Aqui no Brasil, é comum ouvirmos o quão é difícil aprender o português, sobretudo para estrangeiros. Como foi o seu processo de aprendizagem da língua portuguesa?
Laura - Eu tive aulas de português na minha faculdade, tínhamos três horas de aula por semana, com uma professora de Curitiba. A princípio foi um pouco difícil porque confundia com o espanhol, mas agora estou escutando muito o português, falo com as pessoas, e vou muito bem. Tenho apenas alguns problemas com a pronúncia.
Como foi a viagem de vinda ao Brasil?
Laura - No sentido prático foi tudo bem. Não perdi nada, os voos foram pontuais, a comida era boa. O único problema é que estava muito ansiosa e nervosa.
O que esperava encontrar em território brasileiro? Suas expectativas foram superadas?
Laura - Essa é um pouco difícil. Eu moro lá na casa dos estudantes, e minha vida diária se resume ao trajeto de casa à faculdade. Dentro disto, há poucas novidades. Eu gosto muito (de morar na casa dos estudantes) porque tenho muito contato com as pessoas da casa, e meus amigos que também são intercambistas. Mas eu sinto falta de uma cidade grande, uma cidade com opções para sair, para tomar café, coisas que aqui não tem. Esperava viver um pouco mais independente.
Em sua perspectiva, quais são as maiores diferenças culturais entre a Alemanha e o Brasil?
Laura - Isto é interessante, e é sobre a questão da pontualidade. Eu sou alemã, e sou poucas vezes pontual, mas tenho a ideia de me sentir mal quando chego atrasada em algum lugar. Aqui não tem isso, eu chego um pouco atrasada e é normal, não tem esse sentido de perder tempo esperando.
Até hoje, qual foi a maior dificuldade que você já enfrentou?
Laura - Isto é um pouco pequeno, mas eu percebi que há uma diferença cultural muito grande. Na casa dos estudantes, a cada semana, mais ou menos, passamos um filme de cada país, e é muito legal. Eu escolhi um filme alemão, e pedi para um menino que baixasse da internet, pedi para ele também, que me passasse depois em um pen drive, e ele informou que traria o filme quando estivesse pronto. Na tarde em que iríamos ver o filme, ele não estava e esperamos por mais de uma hora. Eu me sentia a responsável em fazer as pessoas esperarem, e isso não se faz. Não foi nada pessoal, mas para mim foi muito forte.
Goiânia enfrenta um período de clima bastante seco e quente, e seu país de origem se caracteriza por um clima temperado. Como está sendo esta adaptação climática tão radical?
Laura - Todos que chegamos aqui, sentimos principalmente dor na garganta, porque o ar é bastante seco. Goiânia é realmente quente, mas eu gosto do sol, me dá muito ânimo. Porém o tempo quente é muito difícil, e acho que para vocês também, pois reclamam do calor. Neste período, na Alemanha está começando o outono. É uma época especial para todas as pessoas, há ventos e é bastante úmido. A saudade deste clima é grande.
Como você acha que essa experiência, de estar em contato com uma cultura diferente da sua, pode alterar sua vida acadêmica e sua própria visão de mundo?
Laura - A nossa maneira de pensar o outro se amplia, há a percepção de que a minha cultura não é a única válida. Pensar e entender isto exige muito trabalho mental; há dias que fico um pouco mal porque não consigo entender a maneira como as pessoas agem. Na área acadêmica, é muito mais excitante sair do seu círculo, da sua universidade, e ver como outras pessoas veem o mundo, como essas pessoas se sentem, como essas pessoas aprendem. Com certeza, é um enriquecimento total.
Source: Facomb