Filosofia é desafio no Ensino Médio

Há cinco anos, a Filosofia faz parte da grade do Ensino Médio. Apesar de desenvolver o pensamento crítico, o ensino tem enfrentado dificuldades.

Por: Bárbara Zaiden


Entrar em uma sala de Ensino Médio e falar em Filosofia pode causar algumas reações menos comuns entre outras disciplinas: cabelos de pé, arrepios, murmúrios,  reclamações e a mais recorrente delas, um assustador ponto de interrogação na cabeça de vários estudantes. Uma possível diferença entre esta e as outras disciplinas ensinadas  está no fato de que as dificuldades não se restringem aos que aprendem. Os que ensinam também enfrentam problemas. Manter o interesse da turma e aproximar o conteúdo da realidade dos jovens talvez sejam os maiores deles.

Em 2006 a Filosofia e a Sociologia passaram a ser obrigatórias no currículo do ensino médio. Desde então professores, alunos e teóricos das áreas se empenham em encontrar novas respostas para o ensino eficaz capaz de alcançar resultados positivos no aprendizado dos alunos. A questão crucial não se restringe a ensinar e aprender. O grande desafio dos professores está em influenciar positivamente a formação da consciência e da personalidade dos jovens alunos.

Sílvio Gallo é doutor pesquisador da UNICAMP (Universidade de Campinas). Para surpresa de quem assiste sua palestra, o professor ingressou na Filosofia quando desistiu da carreira de Engenheiro Químico.

 

 

Sensibilizar

 

Artes, leituras extensas e reflexivas, discussões temáticas raramente são incentivadas aos jovens brasileiros. Remando contra esta maré de exatidão, Filosofia é fundamentalmente pautada no pensamento crítico e reflexivo. O contrário daquilo que acontece com a maioria das disciplinas do ensino médio. Seu objetivo principal é questionar alguns aspectos que geralmente não são encarados como um problema.

Sílvio Gallo é um dos grandes nomes que realizam estudos sobre o assunto no Brasil. Ele consegue definir claramente em que consiste a diferenciação da disciplina: “A Filosofia trabalha com conceitos. Não com conceitos do jeito que estamos acostumados a pensar, pois não são conceitos científicos como da matemática e da física. É um tipo muito específico, próprio da Filosofia e com o qual só ela é capaz de lidar, pois ela é uma forma de pensar através destes conceitos”.

Para superar essa questão, Sílvio propõe um processo de duas etapas. O primeiro contato com a Filosofia deve acontecer através daquilo que ele chama de sensibilização. Os professores podem optar por quaisquer recursos, geralmente são utilizadas produções artísticas. O importante é que haja essa mediação. O professor deve ser capaz de encontrar outros recursos que chamem atenção da turma e viabilizem discussões filosóficas.

Uma das grandes reprovações quanto à essa mediação está na possibilidade de transformar a Filosofia em senso comum. Mas a idéia é que a sensibilização seja apenas a primeira etapa do processo de ensino. Esta possibilidade de transformação da Filosofia em senso comum aconteceria se o professor não chegasse à segunda etapa do processo. Agora, devem ser utilizados textos filosóficos que discutam as questões levantadas durante a análise das produções artísticas e possibilitem aos alunos reflexões sobre o assunto. “Então, se a gente não conseguir chegar nessa segunda parte, de fato você não ensina Filosofia. Mas eu acho que sem passar pela primeira, você não consegue chegar na segunda”, defende o professor.

Para Gallo, a solução destes problemas do ensino de Filosofia depende de um processo de longo prazo: “a única saída pra termos boa formação de professores de Filosofia é essa articulação entre os cursos de licenciatura e as escolas. É fundamental que o estudante de Filosofia conheça a realidade escolar. Esse contato entre a formação na universidade e a realidade na escola é muito importante na formação”.

 

Novas alternativas

 

As maiores críticas feitas por Gallo giram em torno da tecnicidade do ensino e a falsa idéia transmitida de formação geral transmitida pelo ensino médio no Brasil. Segundo ele, o maior problema do ensino da Filosofia não está no sistema ou nos alunos, mas sim no trabalho daqueles que ensinam. O principal motivo é a falta de familiarização com salas de aula, uma conseqüência da história dos cursos que por muito tempo ignoraram a necessidade do enfoque na formação de professores de filosofia. Os profissionais ingressam nas salas de aula incapazes de adaptar os conteúdos levando em conta a realidade e as limitações dos alunos.

Desde o ano passado, a UFG (Universidade Federal de Goiás) conta com um grupo de pesquisas chamado PIBID (Programa de Iniciação à Bolsa Docência), que reúne estudantes de Licenciatura em Filosofia. O grupo trabalha em conjunto com professores de escolas públicas municipais. Os alunos acadêmicos participantes realizam pesquisas sobre diferentes aspectos e eixos temáticos. O objetivo é contribuir com novas formas do ensino da disciplina através de metodologias inovadoras baseadas em bibliografias e experiências práticas. Ao contrário do que geralmente acontece, o PIBID não se restringem a produções teóricas. Os bolsistas mantêm contato direto com a sala de aula têm a oportunidade de aplicar as idéias estudadas. Atualmente,a UFG realiza essa troca de conhecimentos com o Colégio Universitário (COLU).

A professora Maria Eliane trabalha com turmas do Instituto Federal de Goiás (IFG, antigo CEFET) opta por organizar algumas aulas que sejam mais dinâmicas e tragam o aluno para dentro da disciplina: “Utilizo sobretudo filmes, além de atividades mais lúdicas como debates. Tento especialmente me aproximar do mundo da imagem, que é extremamente importante para o jovem de hoje.”

O problema de utilizar essa mediação na dose correta é um problema simples de ser resolvido, basta que a segunda etapa seja cumprida, afinal, é inútil que o professor utilize recursos do dia-a-dia dos alunos e se esqueça de levá-los para a leitura e a interpretação dos textos com caráter filosófico.

A aluna Jéssica Peres diz que quando consegue compreender a Filosofia, muitos conceitos pontos de vista sobre determinados assuntos mudam: “Você entra num mundo de coisas que você não imaginava conhecer, coisas que você nem imagina que existam”.

           

Source: FACOMB