Alternativas em meio ao transtorno

Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) é apontado como um projeto promissor capaz de sanar os problemas de trânsito da capital.

Por Felipe Correa e Vinícius Braga

Reclamações sobre o trânsito em Goiânia têm sido cada vez mais frequentes. Para entender os motivos, basta dar uma volta de carro na capital nos trechos de maior circulação, como a Avenida 85, no Setor Marista, por exemplo. Foi-se o tempo em que o fluxo de veículos era intenso apenas nos horários de pico.

Os goianienses, agora, se estressam do começo ao fim do dia, independentemente do horário. E a explicação pode ser feita através dos números. Até setembro de 2010 eram 946.818 veículos em Goiânia. Este ano, o número chegou a 1.011.811.

O diretor técnico do Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (DETRAN-GO), Horácio Mello, afirma que Goiânia, assim como todas as grandes cidades, sofre com problemas de trânsito. O primeiro impasse apontado pelo especialista é o excesso de veículos. O modelo de circulação destes, segundo ele, é ultrapassado e precisa ser repensado. Mello acentua que esta ascensão não vem acompanhada de investimentos na melhoria das condições de tráfego.

Essa também é a opinião da professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFG, Drª Erika Cristine Kneib. Segundo a especialista, “a falta de infraestrutura que priorize e valorize os deslocamentos coletivos e não motorizados, aliado à permissividade total do uso do automóvel” são responsáveis pelo trânsito ruim em Goiânia.

A professora ressalta ainda os reflexos que o problema do trânsito acarreta para a cidade. “Um trânsito ruim gera conseqüências negativas para a cidade, como poluição, estresse e degradação de espaços urbanos.”

MULTAS

O diretor técnico do DETRAN aponta ainda outro problema: o aumento significativo no número de multas: “Quando se tem excesso de veículos, é de se esperar um crescimento paralelo no número de infrações no trânsito”. Considerado o mesmo período do ano passado, foram 421.665 infrações cometidas por motoristas da capital. Este ano, foram 530.214 multas registradas. Nos dois anos em questão, o excesso de velocidade é o principal motivo das ocorrências. Outros motivos que se destacam são: não uso de cinto de segurança, desobediência ao sinal fechado e parada obrigatória, uso de celular ao volante, entre outros.

Tais números remetem ao dito popular de que “goiano dirige mal”. Contudo, Mello discorda da afirmação e diz que, como ex-secretário executivo da Associação Nacional dos DETRANs do Brasil, esta é uma realidade compartilhada em todo o país. “Assim como em Goiânia, outras capitais do Brasil enfrentam os mesmos desafios e também apresentam altos índices de multas, principalmente relacionadas à associação irresponsável entre álcool e volante”.

ALTERNATIVAS

“Se nada for feito, estaremos a caminho do caos”, analisa Horácio de Mello. Como alternativas, ele destaca medidas que visam à melhoria do transporte público, como a construção de corredores exclusivos que facilitam o trânsito e redução do tempo de viagem. “Os investimentos no transporte público podem ser bastante promissores, já que incentivariam as pessoas a usar o ônibus como forma de locomoção”, opina.

A especialista e professora da UFG partilha da mesma opinião, e afirma que “o transporte público precisa ser priorizado em todos os sentidos: investimentos governamentais em infraestrutura, corredores exclusivos, terminais, pontos de embarque, informação, fiscalização, gerenciamento de tráfego, dentre outros. Garantir a qualidade e confiabilidade do sistema é o primeiro passo. “.

Sobre a construção frequentes de viadutos em Goiânia, na tentativa de melhorar o trânsito da capital, Erika Cristine é enfática: “viadutos devem ser priorizados apenas para garantir a segurança em vias com categorias distintas, como expressas e arteriais. Não são e nunca serão uma solução para melhoria do trânsito em áreas urbanas. Implantar um viaduto na cidade pode até melhorar a fluidez num primeiro momento. Porém, a médio prazo, as vias voltarão a congestionar, pois o uso do auto é sempre superior à capacidade de provisão da infraestrutura necessária, gerando um círculo vicioso infinito.

Outra alternativa apontada pelo diretor técnico do DETRAN é o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), capaz de trazer bons resultados ao trânsito goianiense. Trata-se de um metrô de superfície, uma espécie de trem ou comboio urbano, cujo equipamento e infra-estrutura é tipicamente mais leve que a usada normalmente em sistemas de metrô e de ferrovias de longo curso.

No entanto, segundo Erika Cristine, é preciso, além dos investimentos em infraestrutura, conscientizar a população sobre o uso frequente de carros. “As soluções não são difíceis de listar, mas muito difíceis de serem viabilizadas em muitas cidades brasileiras. Isso devido à cultura (ou falta dela) da sociedade em geral, que tanto prioriza o uso do automóvel”, explica a especialista.

A professora cita o exemplo de outras cidades do mundo que conseguiram contornar, ou pelo menos amenizar as causas e efeitos do trânsito caótico na área urbana. “Diversas cidades, em nível mundial, conseguiram implementar a receita de sucesso de melhoria da mobilidade urbana: investimento e valorização do transporte coletivo, e do transporte não motorizado (a pé e bicicletas), gerando oportunidades de deslocamento para a população, com qualidade; aliadas à restrição do uso do automóvel. Como exemplos podem ser citadas Paris, Londres, Copenhagen, Bruxelas, Amsterdã, dentre outras. Na América do Sul, Bogotá é um bom exemplo, com um projeto que alia o planejamento urbano ao transporte coletivo”, diz.

INVESTIMENTOS

Horário de Mello reitera que o comportamento do motorista em respeito às leis também deve ser revisto. Para isso, garante que o DETRAN-GO tem avançado em campanhas educativas que buscam a conscientização do motorista. “Estamos evoluindo nesse sentido. A começar por uma melhor capacitação daquele que está prestes a ter sua Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Além disso, temos bons projetos de sinalização e engenharia, maior rigor na fiscalização, entre outros”.

A maior intensificação da Lei Seca é um exemplo dado pelo diretor. Segundo informações do órgão, blitze estão sendo realizadas em diferentes pontos de Goiânia, principalmente naqueles com maior incidência de acidentes e de concentração de pessoas para o consumo de bebidas, como bares, restaurantes e casas noturnas. A promessa é de que os trabalhos não fiquem restritos às ações realizadas em fins de semana e feriados. O governo irá investir cerca de R$ 7,3 milhões para o primeiro anos de ações. Estão em andamento licitações para aquisições de cones, bafômetros, produtos químicos e tablets. Ainda está prevista a compra de mais aparelhos OCR (com tecnologia de leitura de placas, por meio do reconhecimento ótico dos seus caracteres) para equipar os carros das blitze.

(Agência de Notícias Facomb)

Fonte: Agência de Notícias Facomb