Saúde em segundo lugar

Professores não apoiam, mas alunos de academias se preocupam mais com a estética

Renan Nogueira

 

No ano de 2005, a Associação Brasileira da Indústria de Higiene, Perfumaria e Cosméticos faturou mais de R$ 15 bilhões, número que é 17,4% maior do que no ano anterior. Esses índices mostram como os brasileiros estão cada vez mais gastando quando o assunto é a beleza do corpo. A cada ano esses gastos aumentam e o número de pessoas que se preocupam com a estética também. Essa preocupação se estende e chega às academias, dando a elas a tarefa quase que total.

O número de academias registradas no Conselho Regional de Educação Física de Santa Catarina, cresce cerca de 20% ao ano. Isso mostra a grande procura das pessoas pela atividade física. Jorge Luiz da Silva, 24 anos, é professor de uma academia que está há mais de 10 anos atuando em Anápolis – GO. Ele acredita que o aumento no número de alunos nas academias foi impulsionado, principalmente, pela informação. “Anos atrás a musculação era conhecida através das pessoas pesadas, fortes, hoje não, hoje as pessoas podem também trabalhar muito a saúde. Então os meios de comunicação mostraram que essas atividades são importantes na vida das pessoas.” Mas ele disse também que essa procura ainda é restrita. As pessoas mais velhas é que buscam saúde aliada à boa forma. Os jovens estão mais ligados ao corpo e à tudo que o margeia. “O público mais jovem é um “pinga-pinga”, vai onde está mais movimentado, onde tem paquera, onde está a turma dele; e qualquer coisa desliga o jovem, como faculdade e viagem.”

Além dessa divisão entre as idades, o professor fez uma separação por gênero, nas atividades. Os homens procuram ficar mais fortes e as mulheres procuram um corpo mais definido, sem priorizar força. “O homens procuram mais a musculação e as mulheres procuram mais as atividades aeróbicas, como o spinning (atividade na bicicleta ergométrica com muita música e animação) e a esteira, que são  mais pra perda de peso.” Jorge disse que os jovens não se mantêm por muito tempo na academia, o público mais velho, de 30 anos à cima, é mais assíduo, eles freqüentam a academia por muitos anos, pois já reconhecem o valor dessas atividades. Mariza Amaro, 43 anos, é um exemplo de aluna com presença constante nas academias. Ela frequenta essa mesma academia de Anápolis a pouco mais de um ano, mas pratica esse tipo de atividade desde seus 20 anos.

 

Alimentação

Diversas pesquisas já comprovaram que a alimentação balanceada está intimamente ligada ao exercício físico para se obter uma boa saúde. O professor Jorge conseguiu estipular um número: 70% dos resultados obtidos na atividade física vêm da alimentação, somente os outros 30% são da atividade mesmo.

 

Mariza diz que chegou a uma alimentação, que julga saudável, após algumas consultas com nutricionistas. No começo, segundo a aluna, é fácil seguir aquilo que é estipulado para a alimentação, mas com o tempo isso se torna complicado. O tempo e a falta de disciplina fazem com que as “regras” estabelecidas sejam esquecidas. Ela fala que sua alimentação não a impede de comer nada, mas traz limites. “Tomo refrigerante, como doces, lógico que não é todos os dias, é policiado. Isso foi eu que defini pra mim mesma.”  

 

 

Anabolizantes

 

Os pesquisadores Jorge Alberto Bernstein, José Carlos Chaves e Roberto Ghignone de Orleans, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA), realizaram um estudo o uso de anabolizantes. Eles descobriram que a principal motivação para o uso dessas substâncias é a questão estética, principalmente o imediatismo na obtenção do corpo desejado. Eles alertam que o consumo não terapêutico traz uma série de prejuízos à saúde.

Questionamentos sobre uso de anabolizantes é bem atual no dia a dia de quem pratica exercícios físicos. Por isso, esse grupo saiu a campo e se matriculou em diversas academias a fim de conhecer a rotina dos frequentadores desses locais. Ao todo, 43 pessoas, que já haviam usado essas substâncias, foram entrevistadas. Um dos pontos mencionados por essas pessoas, e que chama muito a atenção, é que elas se sentiam pressionadas pelos colegas a terem um corpo musculoso. Outra justificativa que elas dão é que era grande o medo de não despertarem a atração do sexo oposto.

A aluna Mariza fala que em todo esse tempo em que ela frequenta academia nunca ofereceram anabolizantes a ela. “Acho que por eu ser mulher, e às vezes pelo horário que frequento a academia, ninguém nunca me ofereceu. Acho que isso está mais voltado pra rapaziada.”

Source: FACOMB