Educação indígena na atualidade

Preocupação em implantar políticas públicas que assegurem direitos educacionais é essencial para que se ampliem conhecimentos e se afirmem tradições

Caroline Guimarães

 

O período colonial no Brasil foi marcado por um cenário político-econômico que excluía o indígena de sua humanidade. Porém, a cultura indígena sempre teve importante participação na formação do nosso povo. Fugindo de preconceitos vindos do passado e da ideia desenvolvimentista de imposição de determinada sociedade sobre a outra, os professores e monitores do curso de Licenciatura Intercultural da Universidade Federal de Goiás partem de um ideal que prioriza a afirmação das raízes indígenas e em suas aulas há uma valorização do diálogo e da troca de saberes.

Buscando observar diferentes culturas e levar conhecimento sem ignorar as particularidades de cada sociedade, esse projeto tem como objetivo capacitar professores indígenas e levar às aldeias goianas noções importantes dentro de várias áreas do saber. Ainda há obstáculos na organização dos Sistemas de Ensino no Brasil e um grande caminho a ser percorrido. Especificamente nas aldeias, a infra-estrutura e os materiais oferecidos precisam ser prioridade para que exista qualidade e resultados satisfatórios.

 

Diversidade cultural


Um dos professores do curso Licenciatura Intercultural, José Pedro Machado Ribeiro, é doutor em formação de professores indígenas e incentiva seus alunos a não terem uma só forma de olhar as coisas. Para ele, se pensarmos o outro nos amparando em raízes culturais, a partir do nosso próprio contexto, nunca respeitaremos, de fato, as diferenças. É preciso se destituir de valores e perceber que todos nós estamos representados como indivíduos na realidade que pertencemos.

 

Questionando-se acerca da relação cultura/escola/professor, o professor José Pedro abriu sua visão em relação ao outro e resolveu realizar suas pesquisas mostrando as realidades por ele percebidas. Ele acredita que suas escolhas foram se objetivando na construção de uma ética comum pautada na diversidade cultural. Desde quando assumiu atividades docentes, José Pedro já trabalhava com formação de professores, mas quando teve a oportunidade de trabalhar mais de perto com a cultura indígena, direcionou suas reflexões e preocupações às relações interculturais entre os povos marginalizados pela sociedade, focando nos indígenas.

 

Novos olhares


Os alunos que se tornam monitores no curso de Licenciatura Intercultural aprendem e se surpreendem com a cultura indígena. A aluna Gabriela Camargo foi monitora do curso e percebeu que sua visão era completamente deturpada. Ela não imaginava que a cultura fosse tão rica e ficou admirada com a preocupação dos indígenas com a natureza, com a língua materna e os costumes tão peculiares e próprios.

 

Gabriela teve a oportunidade de visitar uma aldeia e chegou a fazer parte das discussões. Ela também auxiliou em atividades e dinâmicas interdisciplinares. José Pedro reforça que esse contato mais direto faz com que os preconceitos sejam deixados de lado. As relações entre diferentes indivíduos em contextos culturais diversos possibilitam a criação de um novo jeito de pensar e ver as coisas, reconhecendo e respeitando as diferenças.

 

Conhecimento e tradição


O objetivo de projetos como esse é levar a educação aos indígenas não como uma imposição ou algo a ferir as tradições e costumes. Por isso, a Constituição Federal juntamente com as novas Leis de Diretrizes e Bases (LDB) estão buscando a capacitação de professores indígenas, atuando cada um em sua própria ramificação. Até porque, cada grupo tem um sistema próprio de educar seus filhos para que eles sobrevivam em seu meio. Há um processo peculiar de transmissão de conhecimentos específicos para que se formem bons cidadãos dentro das relações com seus membros.

 

A Constituição Federal também assegura às comunidades indígenas o direito a uma educação diferenciada, com a utilização da língua materna e preservação da cultura. Daí a necessidade de se implementar políticas educacionais que apóiem técnica e financeiramente a formação de professores indígenas e o desenvolvimento de materiais pedagógicos específicos em harmonia com cada povo.

Fonte: FACOMB