O valor da opinião
Crítica a público não se entendem em relação a objetivos e fins do Oscar
Renato Verissimo
A premiação do Oscar 2011 dividiu opiniões. Parte da imprensa brasileira chiou dizendo ter sido mais um espetáculo para celebrar a bancarrota americana. Por outro lado, os cinéfilos não reclamaram da variedade que essa edição do festival apresentou. Exemplo disso é Carlos Eduardo Martins, estudante de Publicidade, que diz: “Assisto [o Oscar] todos os anos. Sei que tem muita coisa ali que não presta. Tem muita coisa genérica, mas acho bom ver o que aconteceu nessa edição. Teve muita coisa diferente.”
A jornalista Rosane Pavam escreveu um artigo para revista CartaCapital apontando o Oscar como apenas um delírio e sinal de infantilidade da atual sociedade estadunidense. Ela escreve em seu artigo, titulado Quase sem Palavras, o seguinte: “ a plateia de gala da apresentação do Oscar, embrutecida pela forma como até então se encaminhava o maior da indústria cinematográfica americana, em sua 83ª edição, infantil para além dos bons modos”.
Rosane Pavam escreve seu texto fundado na crítica proferida por Charles Fergurson, diretor do documentário campeão categoria, quando ao se levantar para agradecer pelo prêmio revelou um dado interessante. . O filme de Fergurson, de título Trabalho Interno, trata dos motivos que levaram os Estados Unidos e o mundo à crise econômica em 2008. De acordo com o diretor, todos os executivos responsáveis por rachar a economia americana estão soltos e bem empregados. Nessa circunstância, segundo a jornalista, a plateia do Oscar teria encontrado seu choque com a realidade.
As afirmações de Rosana não refletem a impressão da estudante de Recursos Humanos Mônica Braga. A jovem diz de maneira simples como quem raramente vê filmes: “Não sei se o Oscar é justo, mas os filmes de todos os anos eu gosto”. Mônica diz gostar das promessas de Hollywood e acha que é levar muito a sério uma indústria do entretenimento colocando-a em posições políticas.
O estudante de Publicidade Carlos Eduardo argumenta de maneira parecida. O Oscar é um trabalho com os sonhos, segundo ele. “Tem gente que julga [o Oscar] como banal, cinema alienado. Eu acho que não. Acho que o cinema em geral é banal, já que é entretenimento.” No entanto, ele concorda que o dia da premiação é um espetáculo. A esse espetáculo ele atribui o nome de show business, de maneira curiosa já que a expressão é usada no mundo arte quando existe a mistura de dinheiro com alguma apresentação artística.
Premiações
A parte da premiação de melhor filme da noite ficou por de O discurso do Rei. O filme é um célebre relato de um evento na história da Inglaterra. O rei George VI, interpretado por Colin Firth, se sente impossibilitado de discursar por problemas na fala. George VI vê na habilidade discursiva do líder nazista Hitler um atributo. Não por menos, talvez almejasse ter aquela habilidade.
A interpretação de alguma crítica levou aos extremos o fato filmado. O jornalista Nei Duclós escreveu em seu blog um artigo, com o título O Pastiche do Rei: O Oscar como atentado, no qual diz que o filme faz apologia ao nazismo. Para o jornalista, a admiração do personagem de Colin Firth pela habilidade de comandar do ditador significa uma ameaça aos direitos humanos.
Duclós vai ainda mais adiante ao tratar a premiação do filme como banal: “... a produção no entanto faz parte da indústria global do espetáculo, terra cultural arrasada onde os sem grandeza dão as cartas sobre figuras históricas principalmente, para que tudo vire tábula rasa e assim eles possam pontificar. Não por acaso Hollywood adorou o serviço sujo do filme”. Carlos Eduardo afirma que o cinema é tratado como política. “Cinema é igual música” ele diz “você quase não pode discutir. Assiste e fala se gostou ou não, mas não pode discutir nada”. O estudante ainda complementa aquilo que Mônica reafirma: “Quem vai ao cinema procura se distrair”.
Fonte: Facomb