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Da periferia de Goiânia para o mundo

Mega Break Crew luta para manter o hip hop vivo em Goiás. Maior desafio é mostrar que a dança de rua é arte e cultura, e não malandragem

 

Lídia Cunha


Calça larga, camisetão, tênis e boné. Lá vão eles caminhando pelas ruas da cidade. Saltos mortais, danças, acrobacias, giros arriscados, movimentos de ginástica olímpica. Rapidinho junta-se uma multidão para assistir a arte da periferia. Mais um dia de show, missão cumprida, alguns trocados no bolso. Na volta para casa, abordagens preconceituosas fazem parte do cotidiano do grupo de hip hop Mega Break Crew. “Para aí, malandro!”, diz o polícia. “Mão na cabeça”. Alguns minutos perdidos, fatos esclarecidos, é hora de partir. Tom Locker, 30 anos, líder do grupo, diz que mesmo uniformizados sofrem muitas ofensas da polícia até poder explicar o seu trabalho.

O Mega Break Crew é um dos poucos grupos do Brasil a conter em sua equipe, além dos dançarinos de break (b.boys e b. girls), dançarinos de locking e popping (dança de rua clássica), rappers, DJs, malabares e grafiteiros. Formado em 1990 por Ricardo Araújo, hoje diretor geral e DJ da equipe, o Mega Break Crew já recebeu mais de 10 premiações nacionais importantes como o Festival Hutuz 2008, o Campeonato Boty Brasil 2010, Topsight 2010, e, mais recentemente, o prêmio B. Boys Battle 2011, dentre outros. Os irmãos Tom Locker e B. Boy Jerry dançam no grupo há mais de 10 anos, e fazem parte da segunda geração do Mega Break, formado por 15 integrantes.


 

Preconceito

O hip hop é discriminado. As escolas dão aulas de caratê, capoeira, dança contemporânea e balé, e quando falamos de break, já somos cortados”, diz Tom Locker. Ele conta que várias escolas já fecharam as portas para o hip hop, sob o argumento de “não causar conflitos entre os alunos”. Em certa ocasião uma professora de dança disse que não poderia aceitar que ele desse aula, pois não tinha estudo, e que ela era formada e concursada. “Então eu respondi: Minha faculdade é a rua, meu diploma é cada menino que tiro das drogas, e a professora se calou”.


Trabalho Social

Além de ter o papel de divulgar a cultura hip hop no estado de Goiás, o Mega Break Crew faz um importante trabalho social, ao utilizar a dança de rua como ferramenta para tirar as crianças e jovens das drogas. Segundo Tom Locker, mais de 3 mil crianças de escolas públicas já foram beneficiadas com o projeto. Atualmente eles dão aula como voluntários no Colégio Estadual Crimeia Oeste e Colégio Estadual Balneário Meia Ponte, na região norte de Goiânia.

Outro trabalho do grupo é incentivar os estudos. Tirar notas boas na escola é um dos requisitos para aprender o break. “A proposta do grupo é pegar um jovem que está na rua, sem estudo, sem perspectiva nenhuma de vida futura e dizer a ele: Você quer ser bom em alguma coisa? Então escolhe o que você gosta, seja dançar, jogar basquete, e seja o melhor”, diz Jerry. Para ele, independente de serem bons ou não o povo já tem uma visão ruim dos jovens da periferia. “Então você tem que dar o melhor de si, se não o mundo vai pisar em você mesmo”, completa.


 

Sonhos

O maior sonho do grupo é conquistar o Boty internacional, a copa do mundo da dança de rua, que em 2011 acontecerá na França. Tom Locker conta que a equipe também tem um projeto de abrir uma ONG para trabalhar com artistas de rua, a exemplo de grafiteiros, malabares, jogadores de basquete, capoeiristas, MCs. B.Boys, skatistas.

O nosso objetivo é dar continuidade ao projeto antidrogas, mostrar um pouco da verdadeira cultura de rua urbana, tentar diminuir a discriminação e aumentar a autoestima dos jovens através da dança”, resume Tom Locker.

 

 

Source: Facomb