Imigrante acha brasileiro ingênuo
Por Gabriel Trindade
O imigrante italiano Ticiano Verdi afirma que o brasileiro é interesseiro e parece ingênuo em relação à religião porque acredita em qualquer um que fale em nome de Deus. Ticiano Verdi, de 34 anos, é católico não-praticante, casado com uma brasileira, pai de uma filha de três anos e padrasto de dois meninos de nove e onze anos. Homem de fala calma e de sotaque quase imperceptível, falou nessa entrevista sobre família, religião, economia, esporte e música, sempre comparando a Itália com o Brasil.
Por que você saiu da Itália e veio para o Brasil?
Ticiano Verdi: Eu vim pro Brasil em 2005. Não tem um motivo único. Estava passeando aqui no Brasil, passei em Salvador e no Rio de Janeiro, e fiquei de 15 a 20 dias. Gostei muito do país. Falei: “Quem sabe um dia eu venho morar aqui no Brasil”. Aí acabei vindo pra Goiânia através de um amigo e conheci minha esposa. Aí tudo aconteceu assim (risos). Conheci minha esposa e tomei minha decisão final. Gostei muito dela. Gostei de Goiânia.
Quais foram os “maiores choques” que você teve ao chegar no Brasil?
Verdi: A malandragem brasileira. Você tá na hora do jantar ou fazendo churrasco no domingo aparece aquele amigo (risos). Quando sai com os amigos, o “cara” demora pra puxar a carteira pra ajudar a pagar a conta e aí eu acabo pagando. O problema é esse. Na Itália, as pessoas compartilham mais as coisas, não são tão interesseiras. A religião também foi interessante. Na Itália é mais o catolicismo, aqui no Brasil são mais os evangélicos. Infelizmente, as pessoas não parecem ter fé, parecem ingênuas no Brasil. Acreditam em qualquer um que fala de Deus. É fácil abrir igreja no Brasil. Eu já pensei em abrir igreja, mas como tenho respeito e acredito em Deus, não abro. Mas parece um comércio.
Como foi o processo de aprender a língua portuguesa?
Verdi: Não foi difícil não. Não foi difícil porque eu já sabia falar um pouquinho do português. Onde eu morava tinha muito estrangeiro, brasileiro, até português. A gente acabava saindo junto pra festas brasileiras, então acabei aprendendo. Quando eu cheguei ao Brasil eu já sabia o básico. Uma base para o começo. Apanhei um pouco no começo, mas morando aqui sozinho, só com os brasileiros, acabei aprendendo muito rápido.
Você conhece outros imigrantes? Eles tiveram dificuldade com o português?
Verdi: Poucos. A maioria que eu conheci que são dois ou três, são pessoas mais de idade. Um já é aposentado o outro tem uns 50 anos é professor de italiano, então ele teve um tipo de oportunidade aqui no Brasil. Os outros são aposentados, então tem a renda deles. Eu sou mais novo, né? (risos). Eles tiveram dificuldade em aprender o português. Até agora, se conversar com eles em português é difícil. Quando converso com um deles, não sei se ele está falando italiano ou português, tudo misturado, então pra mim fica mais difícil.
Você encontrou preconceito no Brasil? E na Itália, existe preconceito com o estrangeiro?
Verdi: Não. Não encontrei preconceito nenhum. Na Itália tem um pouco de preconceito com o estrangeiro. De vez em quando chega ao ponto do racismo. Concorrência do trabalho. O estrangeiro chega lá na Europa ou na Itália, em qualquer país da Europa e mão-de-obra é barata e quem mora lá acha que o estrangeiro é quem rouba o serviço dele. Acontece isso de verdade. O estrangeiro trabalha por um salário inferior.
A realidade de emprego no Brasil é melhor do que a da Europa?
Verdi: Acredito que sim. Tem mais oportunidade aqui no Brasil agora. O Brasil há uns cinco, seis, sete anos tá só crescendo, né? Na Europa tá só diminuindo, só piorando. Mas dá pra ver até na economia mundial. É a realidade. Os brasileiros estão lá. A maioria tá voltando porque lá não tem emprego mais. As coisas estão mais difíceis do que aqui.
Que tipo de profissão você exercia na Itália?
Verdi: Gráfico. Trabalhava como autônomo. Eu tinha meus clientes, mandava imprimir em uma gráfica e depois vendia o produto para o cliente final. Eu trabalhava desse jeito. Eu cheguei a fazer uma escola técnica de arquitetura na Itália, terminei em 97, 98. Exerci a profissão na Itália durante três anos depois da escola. Eu parei de exercer por causa da crise da construção.
Atualmente, em que você trabalha?
Verdi: Eu tenho a loja aqui. Essa lan house, informática, manutenção de computador, assistência técnica. A empresa tá no meu nome. Meu negócio. Estou pensando em fazer uns cursos pra expandir a loja. Vender mais aparelhos eletrônicos.
Você tentou exercer a profissão de arquitetura no Brasil?
Verdi: Nem tentei exercer a arquitetura aqui. De qualquer jeito nem posso porque minha escola técnica lá não é reconhecida aqui. No caso, eu teria que fazer uma faculdade aqui. São cinco anos e é muito cansativo. Trabalho de segunda a segunda. Não tenho tempo. Então desisti disso.
Qual é o esporte mais praticado e acompanhado na Itália?
Verdi: Com certeza o futebol. A paixão italiana é o futebol. Claro que tem o basquete e outros, mas por lá é o futebol assim como no Brasil. Eu torço pra seleção italiana, tenho uma camisa da seleção. Lá em casa, minha filha torce pra Itália quando não joga contra o Brasil.
Qual seria na sua opinião o principal prato da mesa italiana?
Verdi: Massa. Quase todo dia tem massa. Muita massa (risos).
Que tipo de música você ouvia na Itália?
Verdi: Ouvia muita música diferente. Música italiana, americana, mas nunca ouvia música brasileira.
Source: Facomb