Preservando a memória
Por Ana Flávia Marinho
Criado para preservar memórias, hoje o scrapbook é muito mais que isso. Trata-se de uma técnica para decoração de álbuns e objetos de forma criativa. Nayda Rocha, 23, arquiteta e scrapper, concilia muito bem as duas atividades e nos explica as aplicações do scrap e sua historia com ele.
O scrapbook é uma arte recente ou uma manifestação que só agora teve sua divulgação ampliada?
Nayda Rocha: Pelo que eu já li em algumas matérias, ele existe desde antes da fotografia, inclusive aqueles desenhos de fotografia já eram scrapbook. É uma técnica bem antiga. Ela foi mais disseminada na época das guerras, as mães dos militares faziam álbuns para eles levarem e ficarem vendo a família. É mais comum nos Estados Unidos, na Austrália e na Alemanha, lugares que o pessoal começou a criar. Você pode aplicar o scrap em molduras e coisas de madeira, principalmente. A gente pinta e aplica papeis de scrap. É o que a gente chama de scrap décor. Seriam os móveis mesmo. Em tudo você pode criar: caderno, caixinha, cd.
Quais são os tipo de materiais usados?
Nayda Rocha: Todos os materiais que a gente usa são livres de ácido. Então são fitas, papéis e todos os outros materiais livres dessa substância para não amarelar as fotos. Os álbuns são feitos pra durar mais de 50 anos. Então eles precisam de materiais específicos. A gente usa muito aviamento, como botões e fitas de cetim. São elementos de aviamento junto com materiais de scrap, principalmente adesivos e papéis.
O scrap, no seu caso, tornou-se profissão. Quando você percebeu que poderia aliar prazer e trabalho?
Nayda Rocha: Eu comecei olhando na internet, fazendo para as minhas amigas. Estão toda festinha que tinha, a gente fazia um scrap e dava de presente. Só que na época eu não sabia que tinha material específico, depois eu fui conhecer. Como eu comecei a fazer para as minhas amigas elas começaram a mostrar pra outras pessoas. Foi mais um boca a boca. Eu comecei a receber encomendas e expor em feiras artesanato. Agora eu sou professora de scrap e ensino as técnicas. Já tem mais ou menos 5 anos que eu conheci essa arte.
Você é graduada em arquitetura e urbanismo. Há uma combinação entre arquitetura e o scrap no quesito inspiração?
Nayda Rocha: Tem muitos trabalhos que eu faço em scrap que eu baseio nos meus trabalhos de faculdade. Às vezes formas e objetos tridimensionais me inspiram. Principalmente na decoração, porque a decoração e layouts das paginas é a mesma ideia da decoração da arquitetura e design de moveis, eu acho que tem muito a ver.
Qual a maior dificuldade em trabalhar com scrap?
Nayda Rocha: Uma das dificuldades é que os materiais, por serem a maioria importados, têm um custo muito alto. Por isso eu acho que não é tão difundido, não é todo mundo que consegue pagar. Agora que as empresas nacionais estão começando a produzir os materiais.
Quais são suas inspirações e objetos de pesquisa para compor os trabalhos?
Nayda Rocha: Eu gosto de dar um tema para as páginas. Então se é, por exemplo, página de aniversário, eu tento colocar elementos de aniversário na página. Tento me inspirar no próprio tema das fotos, mais nas fotos que em outras coisas. Prefiro escolher a foto e em cima dela fazer as páginas. Tem gente que já faz o contrario: faz a página e escolhe a foto.
Então, scrap pode trazer bem estar e conforto, funcionando como uma terapia?
Nayda Rocha: Com certeza. Inclusive alguns psicólogos indicam o scrapbook como terapia pra pessoas estressadas. É muito detalhe, o scrap exige muita paciência, sendo assim é uma forma de a pessoa ficar mais calma. A gente tem uma aluna que tem alzheimer, ela não se lembra de nada, nem da família. Os irmãos dela a trouxeram pra fazer scrap e, olhando as fotos, ela relembra algumas coisas do passado: o casamento, o nascimento dos filhos. Pode não ajudar 100%, mas contribui pra memória da pessoa continuar ativa. O scrap é um aliado à saúde, com certeza.
Devido às poucas papelarias especializadas, as compras pela internet são indispensáveis?
Nayda Rocha: Eu uso a internet como aliada, pois muitas coisas não chegam ou ficam mais caras. As lojas nacionais geralmente vendem o básico, mas pra quem tá começando, já têm muita coisa pra ajudar. Inclusive a expansão do scrap é uma forma de estimular empresários brasileiros. Conforme for aumentando a demanda, com certeza vão surgir outras empresas. Outras formas de expansão são as feiras, inclusive já tem a Feira Internacional de Scrapbook aqui no Brasil.
Quais são os requisitos para quem quer iniciar a produção de scrap?
Nayda Rocha: Qualquer pessoa pode fazer, desde que tenha disponibilidade e tenha um pouco de paciência, até quem acha que não tem habilidades manuais. Às vezes a pessoa tem e não sabe. Eu indico um curso para conhecer os materiais, já que são específicos. Eu mesma, depois que eu fiz cursos, aprendi a usar material específico, pra deixar as fotos bem bonitas evitando que elas amarelem.
Fonte: Facomb