Não deixe restos

Programa Cozinha Brasil ensina como aproveitar alimentos.

Por Jovana Torres

O Brasil tem 46 milhões de pessoas famintas, segundo o estudo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária (Embrapa). Com tantas pessoas que não tem o que comer, não é aceitável que se jogue fora comida que pode ser aproveitada. Aproveitar os "restos" é o que ensina o Programa Cozinha Brasil, do SESI em parceria com o Governo Federal. Nesta entrevista, a coordenadora do Programa, Eliane Cândido Carneiro, explica melhor sobre o projeto.

Como surgiu a ideia de ensinar outras pessoas a aproveitar melhor os alimentos?
Eliane Carneiro:
O Programa Cozinha Brasil foi inspirado no mesmo modelo de um programa existente em São Paulo. O Programa Alimente-se bem com R$1,00 foi o pioneiro em cinco estados - ES, MG, PE, SP e PI lançado em 2004. após isso, foi lançada a segunda etapa do programa, intitulado Cozinha Brasil, em dez estados, incluindo Goiás, com parceria do SESI e o Ministerio do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).

Como os interessados podem se inscrever?
Eliane:
Para começar, devo explicar que os cursos são oferecidos em três formas diferentes. A unidade móvel prioriza as indústrias. Então, as indústrias interessadas agendam  o treinamento e o Programa leva a cozinha móvel que temos disponível. A cozinha fixa, como o nome diz, tem um local fixo e as nutricionistas ministram o curso no próprio local. Por fim, a Cozinha Semifixa é voltada para o CRAS, Centro de Referencia de Assistência Social, que estão interessados em dar o treinamento aos funcionários, mas não tem uma cozinha equipada. Então, o programa leva um kit e monta uma cozinha para que possa desenvolver o treinamento adequadamente. Mas é importante esclarecer que essas alternativas são prioridades e não exclusividades. Caso não tenha treinamento agendado, as nutricionistas ministram o curso para uma turma de alunos da própria comunidade que agendar o curso. E finalmente, para se inscrever ou agendar, entrem no site
www.cozinhabrasil.org.br .

Quantos alunos já receberam as instruções nessa unidade para melhorar o aproveitamento dos alimentos?
Eliane:
Eu até me assustei com o número. O serviço está sendo reconhecido e, desde 2004, quando o programa foi lançado, já ajudamos cerca de 35.100 alunos.

Ao chegarem aqui, os alunos não têm uma noção básica da higiene alimentar ou já fazem a higienização e preparo de forma correta?
Eliane:
Quando a pessoa tem mais estudo, ela chega aqui com certa noção. Mas, em geral, as donas de casa das comunidades mais carentes, chegam aqui com manias que não são as mais higiênicas. Ao final do curso, várias noções de preparações diferenciadas e de baixo custo são passados aos participantes, juntamente com noções de manipulação segura e higienização correta dos alimentos, até mesmo sobre higiene pessoal. E, após o curso, não mais esquecem, pois recebem uma apostila com 250 receitas econômicas e todas as instruções de preparo e manipulação do alimento.

Quem elabora as receitas que são escolhidas e colocadas na apostila?
Eliane:
As receitas foram preparadas por nutricionistas de São paulo, do Programa Alimente-se bem com R$1,00. Todas as receitas passaram por uma análise sensorial, a qual é uma pesquisa para saber a aceitação do alimento. Portanto, todas as receitas que estão na apostila, já foram analisadas e aprovadas por outras pessoas, antes de serem publicadas.

Qual a receita que os alunos mais se surpreendem após a aprovação?
Eliane:
As que eles mais se surpreendem são com o brigadeiro de mandioca e o bolo de casca de banana. Eles imaginam uma coisa e torcem o nariz, mas depois de experimentar mudam de ideia e aprovam. São receitas simples e baratas de fazer.

Cerca de 30% dos alimentos no Brasil vão para o lixo. Apesar disso, as pessoas ainda têm dificuldade de aceitação em incluir o que consideram "restos" nos pratos do dia-a-dia?
Eliane:
Ao iniciar o curso olham com cara feia para um prato que contem casca de melancia, ou um suco verde, uma farofa que leve a casca do chuchu ou um bolo de abóbora cabotiá. Mas a partir do momento em que eles experimentam e aprovam a receita, mudam de ideia, como eu disse antes. Eles entendem que é possível economia e sabor andarem juntos.

Além de aprender receitas inusitadas, o que mais se pode aprender com o curso?
Eliane:
Nós nos preocupamos em não fazer um curso de culinária, por isso nós também ensinamos as funções dos alimentos, a elaborar um cardápio equilibrado, como planejar a compra, a congelar e descongelar os alimentos; cuidados que vão da manipulação até o preparo dos alimentos.

Apesar de ter apenas seis anos de existência, quais são os resultados colhidos pelo projeto?
Eliane:
Nós não temos uma empresa que faça essa pesquisa por nós, mas acredito que a demanda e a satisfação dos nossos alunos mostram que o curso tem credibilidade e amparo da sociedade.

Fonte: Facomb