Desafio na educação

Professor comenta os problemas que os alunos enfrentam com a Língua Portuguesa.

Por Felipe Ungarelli

O Professor do Ensino Médio do Centro Educacional SESC Cidadania, Décio Orlandi, formado em Letras – Português/Inglês pela USP fez uma avaliação sobre o desempenho dos alunos que se preparam para o vestibular e os problemas que os brasileiros, em geral, encontram na Língua Portuguesa.
 
O que você fazia antes de ser professor em Goiânia?
Décio:
Era professor também. Em São Paulo eu trabalhei em cursinhos pré-vestibulares. Em Goiânia eu já dei aula no CEFET e em escolas de inglês.
 
Você acha que os alunos de São Paulo se preparam melhor para o vestibular que os alunos de Goiânia, já que lá a concorrência é maior?
Décio:
Na verdade não. Aqui nós temos a UFG e a UEG de universidades públicas, o que torna a concorrência muito maior, já que em São Paulo nós temos várias universidades. A diferença seria que lá os alunos são mais dedicados e independentes. Eles se dispõem a sair de casa para estudar, enquanto o goiano é mais familiar.
 
De uma forma geral, como você avalia o desempenho dos seus alunos em redação?
Décio:
Você tem alguns alunos que se destacam, mas o geral nunca é bom. Os que se destacam normalmente são por méritos próprios. Não é um problema deste colégio ou daquela matéria ou de Goiás, é um problema geral no Brasil. Há um déficit na leitura e na compreensão de textos. Um aluno que não vai bem em Redação também dificilmente vai bem em História, por exemplo.
 
Você consegue notar uma melhora no aluno do 1º até o 3º ano?
Décio:
Sim, porém é uma melhora individual. Eu posso perceber alunos que nunca escreveram bem, mas que no 3º ano vão escrever muito bem e alunos que sempre escreveram bem e que no 3º ano vão escrever surpreendentemente bem. Mas a evolução não é constante, nem sistemática.
 
Quais são os erros mais comuns nas redações?
Décio:
É tudo. Há uma falta da gramática. Se você não tem uma organização gramatical, seu pensamento fica comprometido. Mas a falta de conhecimento de mundo faz com que os alunos não saibam argumentar em uma dissertação, por exemplo.
 
Você consideraria a internet uma vilã para os alunos do Ensino Médio?
Décio:
Os jovens não utilizam bem a internet e, muitas vezes, porque eles não falam uma língua estrangeira. Se você se limita ao português, seu conhecimento fica defasado. Eles se limitam ao primeiro site que encontram. Uma comparação seria o site Wikipédia em português e em inglês, o mesmo assunto é muito mais rico em inglês.
 
Qual a sua opinião sobre a Reforma Ortográfica?
Décio:
a Reforma Ortográfica ainda não entrou em vigor, então ainda não é um problema. Eu dei uma palestra sobre isso, inclusive foi na Bienal do Livro aqui em Goiânia, ano passado. Há mitos sobre ao existir mais acento ou vogal dobrada. O brasileiro tem plena consciência de que escreve mal, não faz nada para mudar e isso gera um complexo de baixa auto-estima em que as pessoas têm receio de usar a sua própria língua.
 
O que faz com que determinada palavra se encaixe na norma culta?
Décio:
Os lingüistas vão dizer para você que o que importa é a comunicação. Eu acho que é por ai. As regras existem para evitar o caos, não que eu precise usá-la o tempo todo, eu mesmo não uso em uma conversa informal. Isso eu acho que a lingüística trouxe de bom. Existem contextos para se utilizar a norma culta, mas as pessoas não sabem diferenciá-los.
 
O que deveria ser feito para melhorar a Educação Brasileira?
Décio:
Parafraseando Levi-Strauss, ele disse que as cidades na América passam do período de florescimento para a decadência sem jamais terem conhecido um apogeu. Isso serve para a educação no Brasil. Nós não temos nenhum Prêmio Nobel. Podem dizer que o Brasil é ruim em tecnologia, mas não é diferente na literatura. A educação no Brasil é caos, precisaríamos parar e começar de novo. Os alunos que seguem o magistério, normalmente, são os piores alunos do Ensino Médio. O Brasil tem um déficit de meio milhão de professores e o problema não é só melhorar o salário, tem que melhorar o ensino, para melhorar o salário. Como aconteceu com os policiais nos Estados Unidos.

Fonte: Facomb