Acho chique vender tapioca
Por Jéssica Reges
Conhecida pelo sucesso da sua tapioca, Hilda dos Santos de 66 anos é a “tia da tapioca” da Universidade Federal de Goiás. Nesta entrevista ela revela o gosto pelo seu trabalho e porque depois de ser funcionária da UFG durante 30 anos passou a trabalhar informalmente nas dependências da universidade. Bem acolhida por todos, ela já se tornou uma espécie de ícone entre os alunos, cativante, supre todas as suas necessidades em casa através do dinheiro que ganha com a tapioca.
Qual é sua terra natal?
Hilda dos Santos: Eu nasci em Correntina, Bahia.
Por qual motivo você veio morar em Goiânia?
Hilda: Ah! Não teve nenhum motivo específico, eu achei que deveria vir e vim!
Você terminou seus estudos?
Hilda: Não! Eu tenho apenas o segundo grau( ensino médio) incompleto.
Há quanto você trabalha como vendedora de tapiocas?
Hilda: Há mais ou menos uns dez anos.
Poderia contar um pouco da sua rotina?
Hilda: Eu acordo todos os dias às cinco horas da manhã, preparo os ingredientes necessários para a produção da tapioca, frango, carne, polvilho. Eu preciso de carro para trazer o botijão de gás por exemplo, então os meus filhos me trazem de carro para a universidade.
Já trabalhou em algum setor formal?
Hilda: Sim! Eu era concursada, trabalhei trinta anos no Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFG, no departamento de botânica. Era eu quem recolhia as plantas para levar pro laboratório a serem analisadas pelos alunos.
O que te motivou a começar a trabalhar no setor informal?
Hilda: Como eu trabalhava no ICB sempre que tinha eventos na universidade eu fazia tapiocas para vender. Eu sempre gostei disso, para falar a verdade, eu acho chique vender tapiocas. Aqui eu ainda trabalho somente com o uniforme que eu mesma produzi pra mim, mas na minha terra, as mulheres trabalham caracterizadas vendendo tapiocas. Eu acho muito chique.
Você já sofreu algum tipo de discriminação?
Hilda: Pelo ao contrário. Aqui todo mundo me acolhe muito bem, desde os professores até os alunos. Graças a Deus eu sou querida. Sou tratada como eu acho que mereço ser tratada.
Em sua família alguém mais trabalha no setor informal?
Hilda: Não. Só eu.
Veria algum problema se seus filhos trabalhassem neste setor?
Hilda: Não. Não veria nenhum problema.
Em média, qual sua renda mensal?
Hilda: Eu tiro em média R$2.000 por mês.
Sente falta de privilégios trabalhistas como férias, FGTS, 13º salário?
Hilda: Nenhuma falta. E férias, quando a universidade entra de férias, eu entro também.
Com quem aprendeu a fazer tapioca?
Hilda: Eu morava em uma fazenda na Bahia. Cresci vendo meus pais fazerem farinha, tirar polvilho, isso era nosso café da manhã, já que não tínhamos muitas condições. Aprendi vendo meus pais fazerem.
Qual sua visão a respeito do comportamento do governo em relação aos trabalhadores informais? Você acha que eles deveriam receber mais amparo?
Hilda: Sim! Todo mundo tem o direito de viver né? Eu já vi eles não deixarem vendedores ambulantes não trabalharem, e era aquilo ali que eles tinham pra viver. Acho que os sol nasceu para todos né? E a sombra pra quem quer.
Fonte: Facomb