O autismo como um corpo branco: Como o diagnóstico da atriz Jessica Sodré evidenciou a falta de representatividade de autistas racializados
Jessica Sodré, atriz conhecida por seu papel de Lady Daiane em "Senhora do destino", vem recebendo destaque ao falar sobre autismo e diagnóstico em suas redes sociais, mas ainda é uma das poucas pessoas racializadas com TEA a ter voz na mídia
Desde 2023, Jessica Sodré recebe atenção ao utilizar suas redes sociais para falar sobre seu diagnóstico de autismo e outras questões relacionadas ao TEA (transtorno do espectro autista). Porém, ela ainda faz parte de um pequeno número de pessoas com autismo racializadas que utilizam as redes sociais para dar voz a sua condição.
Mesmo com o crescimento de pessoas autistas falando sobre suas dificuldades e vidas pessoais nas redes sociais, um estereótipo ainda predomina: o do corpo branco. A maior parte desses produtores de conteúdo são brancos, fato que evidencia a falta de atenção para pessoas negras, indígenas, pardas e asiáticas diagnosticadas com transtorno do espectro autista. Essa falta de atenção vem de um estereótipo negativo, mas ainda pertinente, de que apenas pessoas brancas podem ter a condição, assim, dificultando o diagnóstico para pessoas racializadas e fomentando o preconceito com autistas que pertencem à minorias raciais. De acordo com Ana Luísa, autista e estudante de Design Gráfico na UFG, "além dos problemas que autistas já enfrentam, muitas pessoas racializadas não são levadas a sério para receberem o laudo". Sua fala revela que essas pessoas sofrem não só com problemas que já são comuns em suas vivências, como também com a marginalização, invisibilidade e com a barreira ao acesso do diagnóstico e tratamento.
A ausência da representação adequada e livre de estereótipos desse grupo de autistas na mídia contribui para o apagamento de suas narrativas e pautas levantadas, como a luta pelo fim do preconceito racial dentro da comunidade neurodivergente e pela presença de pessoas autistas em espaços que elas não costumam ter voz, como programas de TV, redes sociais e mercado de trabalho.
A representatividade na mídia é crucial para a normalização e aceitação desse grupo em espaços de poder para dar fim aos estigmas que perpetuam sobre ele. "Sempre é importante demonstrar que pessoas autistas racializadas existem", afirma Ana Luísa, defendendo a ideia de que a representação tem imensa importância para findar o preconceito com autistas racializados. "Quanto maior a representatividade, mais informadas as pessoas são", ela continua, mostrando a ideia de que a representatividade deixa as pessoas mais informadas acerca da relação entre o transtorno do espectro autista e as diferenças raciais. Através das falas da estudante, fica evidente que representatividade adequada traz entendimento público sobre as experiências autistas e raciais, aumentando a inclusão e respeito com o os indivíduos neurodivergentes.
Por isso, a falta de representatividade de pessoas autistas racializadas na mídia é um propulsor de estereótipos e preconceitos acerca da neurodivergência e diversidade racial. É fundamental que a indústria midiática e as plataformas digitais se comprometam com a inclusão, garantindo que todas as vozes sejam ouvidas e respeitadas, e garantindo também o espaço de pessoas com TEA em ambientes que são comumente dominados por pessoas brancas e neurotípicas. Somente assim podemos aspirar a uma sociedade onde a identidade autista e racial se sinta reconhecida e representada.
Por: Geovanna Vigilato
Fonte: Aluna de Jornalismo Geovanna Vigilato, Turma 58. Notícia produzida para a disciplina Produção de Texto Jornalístico 1, ministrada pela docente Mariza Fernandes.
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